sábado, 25 de setembro de 2010

Fugindo da dor.

O corpo humano é fantasticamente adaptável!
Quando sofremos um entorse de tornozelo os músculos encarregados de estabilizar a articulação se contraem com o objetivo de fixar e proteger os ligamentos lesionados. Para fugir da dor, mudamos o apoio do pé e a forma de caminhar. Tudo isso acontece de forma automática e inconsciente pelo sistema neuromuscular; se trata do reflexo antalgico.

É o reflexo anti-dor, ou seja, existe para nos proteger da dor. Para que possamos nos movimentar escapando dela.

É fundamental pois a nossa capacidade de ir e vir, nos trouxe até aqui; nos permitiu sobreviver desde a pré-história. Nossos ancestrais tiveram que se locomover, ora fugindo de predadores, ora para que pudessem procurar regiões menos inóspitas; enfim para sobreviver. Como teria sido se cada dor fizesse com que parassem? 

Até aqui tudo bem. Mas...
... se esse mecanismo de defesa for demasiadamente intenso ou se prolongue por muito tempo, este reflexo defensivo não desaparece, fazendo com que se alterem os movimentos do restante das articulações. Joelhos e quadris (pelve) modificam assim sua posição para adaptar-se ao novo apoio do pé. A pelve se inclina para manter o equilíbrio, levando tensões para a região lombar, já que os músculos das costas tentarão equilibrar essa alteração.
Porém a capacidade dos músculos e articulações para assumir essas compensações se limita com o passar do tempo, com as tensões excessivas, os traumatismos, etc.
Chega um momento em que, no exemplo acima, a região lombar, se não transmitir a tensão para o ombro oposto ao tornozelo torcido, não suportará tanta compensação e se bloqueia com uma contratura muscular, ou mesmo com bloqueio articular, causando dor facetaria (faceta articular comprimida). Pode ser que isso aconteça meses após o entorse do tornozelo que iniciou ,na verdade, todo o problema.

Nesse caso tanto a lombalgia (dor lombar), como uma "tendinite" no ombro, razão pela qual a pessoa procura o médico, constitui um sintoma local que se explica dentro de um processo global, que tem como causa primária a antiga lesão de tornozelo.
Isso não é curioso?

O nosso corpo é provido de mecanismos que nos defendem e permitem que continuemos em movimento. Mas esses mesmos mecanismos, a longo prazo, constituirão a base do problema, portanto têm que ser entendidos para que alcancemos êxito em nossos tratamentos.

Por inúmeras vezes me vi diante de pessoas com queixa de problemas em um determinado local e após avaliação cheguei à conclusão de que a origem estava distante.
Exemplo: Uma pessoa me procurou pela dor causada  por uma  "tendinite" no ombro que persistiu mesmo após muitas sessões de fisioterapia localizada, 40 sessões, e foi curada com correção da posição (postura) da pelve, em uma harmonização global.

Lebrete: há estruturas anatômicas ligando o ombro ao ilíaco, osso da pelve. Além do latíssimo do dorso, o músculo mais conhecido como grande dorsal, temos a miofascia. Vide o post Trilhos Anatômicos.

Sensações e percepções negativas ligadas a má postura (gerada por fuga de desconforto), movimentos repetitivos ou sobrecarga de qualquer tipo provocarão respostas musculares e articulares também negativas. Alguns músculos trabalharão em excesso e outros serão pouco solicitados. Algumas articulações suportarão mais peso do que devem e tenderão a se bloquear; outras sofrerão por excesso de movimento...
Com isso o corpo entra em um circulo vicioso de desequilíbrio articular e contraturas musculares que acabam por prejudicar a saúde. Muitas vezes a pessoa não é consciente disso até que as dores se encarreguem de dar o alarme.

Então, quando estivermos diante de dores que não surgiram de um trauma direto, que não sejamos capazes de precisar porque ela está ali, devemos avaliar minuciosa e integralmente, globalmente, esse corpo para determinarmos a verdadeira origem delas. Devemos ir atrás da real causa do reflexo antálgico!

É como contar uma história de trás para frente.

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