quinta-feira, 24 de junho de 2010

A CURA PROFUNDA

O papel do terapeuta não consiste unicamente em curar a doença, mas desarraigar a tendência de percebê-la como uma ameaça externa. 

Ao oferecer uma atitude de camaradagem e empatia, o terapeuta está sugerindo ao paciente uma forma de cura ou sanidade fundamental que bane todas as ideias ingenuas sobre doença. 

O que realmente o terapeuta faz é tratar o desânimo, ou seja, a forma errada com que lidamos com intervalos ou eventos que ocorrem em nossas vidas. As pessoas tendem a sentir que sua doença é algo de especial ou que são os únicos que sofrem. Mas a doença não é tão especial ou tão terrível, a primeira coisa a reconhecer é que nascemos sozinhos e morremos sozinhos e que mesmo assim, está tudo bem. Não há nada de tão terrível ou especial nisso.

Nós acreditamos que o desejo de se libertar da doença é equivalente à vontade de viver. Mas muitas vezes é justamente o oposto, ou seja, um desejo de evitar a vida. Embora aparentemente desejemos estar vivos, de fato o que queremos precisamente é evitar a intensidade (da própria vida*), podendo assim retornar com a cura para a rotina anterior. 

Qualquer forma de entretenimento nos leva a crer que estamos em estreito contato com a vida, quando, na verdade, o que fazemos é submeter-nos a um estado de maior letargia.

Tanto os psiquiatras e médicos como seus pacientes têm que se conciliar com a angústia que foi gerada com a possibilidade da sua própria inexistência. Uma vez que reconhecemos esse medo básico é que o tratamento torna-se mais fácil. 

É aí onde você começa o processo de cicatrização, que continua com bastante facilidade e naturalidade, desde que escutemos a nossa própria sabedoria e compaixão inerentes. Não é um processo particularmente espiritual ou místico, mas uma experiência humana normal. 

Finalmente, o que queremos dizer ao afirmar que um paciente foi curado? Cura significa, ironicamente, deixarmos de estar desconectados diante da vida  e sermos capazes de enfrentar a morte sem ressentimento ou expectativa.

Tradução livre do texto original de Chogyan Trungpa Rinpoche - Mestre do Budismo Tibetano

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